domingo, 28 de julho de 2013

Primeiro

- Devíamos ter comprado um chocolate. - eu disse, para a garota que conhecia há oito meses e estava, pela segunda vez, sentada do meu lado no cinema, dessa vez ela usava uma blusa preta com alças nos ombros, bem justa e decotada.

- Verdade, a gente não pensou nisso... - ela respondeu com o tom reticente que era característico do fim d suas frases mal pronunciadas. Desde pequena ela tinha problemas de dicção e errava algumas letras. Além de engraçado, eu achava aquilo lindo.

- Mas eu pensei. - rebati, sacando do bolso uma pequena barra de Sensação, que nós dividimos no escuro. Lá na frente, na grande tela, passava a versão moderna de "A Fantástica Fábrica de Chocolate", com Johnny Depp no papel de Willy Wonka, e os inúmeros estímulos gastronômicos daquela indústria miraculosa nos deixaram com água na boca.

No futuro eu viria a saber que ela não era muita fã de Sensação, mas que comeu assim mesmo e não falou nada para não estragar a beleza do momento. Não é uma graça?

O filme acabou, mas eu ainda estava em estado de atenção. Eu queria agarrá-la, beijá-la, levá-la para a minha casa, mas como? Jovem, bobo, inexperiente e apaixonado, uma combinação que por vezes mais atrapalha que ajuda ao lidar com as mulheres.

Ela me acompanhou até a entrada do metrô, onde paramos para nos despedir, encarando um ao outro. Tínhamos dezesseis anos, conversávamos ao telefone todos os dias, por duas ou três horas, logo, quando eu a encontrava, não havia o que dizer, com meu cérebro gritando os mais diversos comandos de avançar e recuar, enquanto olhos castanho claros cheios de ansiedade se fixavam nos meus.


Deixei o instinto me guiar, levei a mão direita ao rosto dela, para não errar a boca com os olhos fechados. Beijei. Abri demais a boca, ela gostou, não porque o beijo tivesse sido bem dado, mas porque tinha lido numa revista que os meninos abriam demais a boca para beijar quando estavam ansiosos. Para ela, era a prova de que queríamos a mesma coisa.