segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Declaração

Já fazia anos que ele estava apaixonado. Ela, aquela por quem ele se apaixonara à primeira vista, e tinha medo, na idade em que ainda deveria ter nojo de garotas, e tinha até vergonha de admiti-lo para os amigos, mas gostava dela assim mesmo. Mesmo quando se interessava por outras, jamais a esquecia.

A paixão ia e vinha, às vezes fraca, só um olhar encantado durante a aula, outras mais forte, fazendo-o pensar nela o tempo todo, ou ficar nervoso como nunca quando formaram um par para dançar na festa junina, e até morrer de raiva ao descobrir que ela estava "namorando" um cara mais velho. Mas desta vez estava quase incontrolável.

Ele ficou amigo de uma amiga dela, sondou, tentou descobrir alguma coisa. Pela amiga, mandou bilhetinhos anônimos com letras de música, mas a menina reconheceu o autor dos bilhetes pelo gosto por certas canções.

E agora? Eles tinham só catorze anos, e ele nunca tinha sequer falado com uma garota com intenções românticas. O que fazer? Bom, ela já sabia mesmo, então só tinha duas opções. Ser corajoso e se declarar ou evitá-la e jamais tocar no assunto até o fim de seus dias.

Escolheu ser corajoso.

Arranjou uma caixinha azul, um livro de presente, escreveu poemas numa carta e colocou-a dentro do livro. Depois colocou tudo na caixa com um monte de pétalas de rosa e um sonho de valsa. Era a sua cartada final. Se esse full house não funcionasse, é porque nada funcionaria mesmo.

Ele sabia mais ou menos onde ela morava, foi o bairro e ligou para ela de um orelhão, pedindo o endereço certo. Queria se declarar ao vivo, não por telefone. Teve que andar um pouco até a casa dela, mas enfim chegou.

Tocou a campainha.

Ela veio falar com ele, no portão mesmo. Não sabia o que dizer, então partiu para a ação, entregou logo o presente. Ela abriu, olhou, mexeu, achou a carta, resolveu ler os poemas ali, na hora mesmo. Terminou. Olhou para ele.

Ele esperou.

O que ele esperava conseguir com aquilo? Uma garota que repentinamente se encantasse por causa de um presente bonitinho e um par de poemas e se jogasse em seus braços, perdidamente apaixonada depois de receber uma declaração assim?

É, era isso mesmo que ele esperava.


E seria muito bom se tivesse acontecido. Mas não aconteceu, ela disse que não queria namorar, agradeceu o presente, os poemas, tudo. Perguntou se podia dar um abraço. Eles se abraçaram, e ele voltou para casa chorando.

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